Obscurum per obscurius
À das Farinhas, Joshua Benoliel
O fotojornalista português escolheu o ângulo, habitual no seu trabalho, a esquina movimentada; vê-se um anúncio justaposto, duplamente afixado no edifício, mas a quê?
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— A uma peça teatral [1]?
— A entretenimento on demand, profusamente visual, saído da prensa de tipos móveis, como chamariz para captar novos assignantes?
À procura de uma data
Desligo o computador. Caminho por esta rua lisboeta, deambulo entre retratos de rostos nas paredes do Beco das Farinhas ao Largo dos Trigueiros.
Vive-se ainda em pandemia e não se abraça. Retempero forças no vale entre colinas. Subo à do Bairro Alto, das officinas, typographias e litografias. Se fechar os olhos, não tarda a imagética das memórias sai do prelo numa apaixonante forma de editar; há mais de um século os pares concorriam comercialmente e trabalham em conjunto.
Quanto mais aprofundo esta pesquisa, mais me enamoro por ela. Espero que te divirtas a lê-la. Para quem ama a imprensa, tanto como eu, este não é apenas uma lugar de passagem rápida; demora-te nos recortes de jornais escolhidos a dedo. Delimitei a procura por datas precisas sobrepondo cronologias e cruzei fontes para mapear a curiosidade. Voltaremos à fotografia de Joshua Benoliel para ampliá-la, antes de regressar a esse castello, não o da ficção anunciada, mas o de S. Jorge, até à Rua das Farinhas:
1735.01.12, decreto de D. João V: que se avaliem as propriedades para se expropriarem e se poder alargar essa mesma rua.
1739.04.08, consulta sobre o pedido do visconde de vila Nova da Cerveira que começou, às suas custas, a arranjar a Rua das Farinhas e que pretendia ver terminada essa obra por ser muito necessária para todos os moradores da zona.
1739.10.19, carta de Manuel Rebelo Palhares dirigida a Eugénio Dias de Matos a comunicar que recebeu o auto que mandou fazer, através do escrivão das obras Francisco Xavier de Melo, da vistoria feita na Rua das Farinhas para o conserto da calçada. Ordena que a obra seja feita.